10 meses e aprendi finalmente a meditar!
O Xavier já fez 10 meses.
Podia falar hoje dos 4 dentes f^:^`s que já romperam e de umas gengivas chatas a inchar. Dos pequenos passos e tropeções que dá agarrado a cadeiras e ao sofá. Dos gritos para chamar a atenção, das birras. Do olhar terno, do sorriso malandro, do banho. Das vezes sem conta que diz mamã enquanto me procura pela casa.
Podia falar de comida, do que morde, do que suja. Da ligação com o pai, das brincadeiras, que se abana a dançar quando ouve música e que nós somos um teatro permanente porque ele passa o dia a bater palmas quando nos vê.
Mil fotos a rebentar a memória do telemóvel. Experiências em aviões, cocós até às costas sem mudas de roupa na mochila, meias horas de choro, noites em claro, conversas longas às 4 da manhã em italiano e acredito, que uma serie de outras coisas que me estou a esquecer de mencionar. Como abraços longos, baba em toda a minha cara, festinhas e pancadas nas minhas mamas, aquele encostar de cabeça e claro o respirar que parece uma musica perfeita de quem dorme despreocupado.
Mas vou falar de como ter um filho que dorme mal, me ensinou a meditar.
Quem é mãe já deve ter estado à beira do desespero pelo menos uma vez, entre o choro, a luta contra o sono, a agitação do bebé e o muito cansaço que se abate alguns dias sobre nós, em que esperamos o dia todo pela noite e pela hora e que ee adormece, a casa sossega e podemos finalmente descansar.
Quem é mãe sabe que nem sempre o sossego chega, quando mais precisamos dele. Às vezes é uma luta.
Todos os dias repito a rotina de sono.
Todos os dias pela mesma ordem. Quase sempre mesmo depois de uma primeira ameaça de vitória do sono, o Xavier resiste e renasce e lá vai ele dar umas voltas no meu colo.
Algumas vezes acho que me vou passar. Quem já se passou com um bebé que não dorme e não quer que mais ninguém durma?
Às vezes sinto o desespero de querer vê-lo a dormir para eu dormir a seguir, mas sei hoje 10 meses depois, que não posso ter pressa. Se num dia adormece enquanto rezamos, no noutro vamos demorar 40minutos até o sono vencer. Nunca sei quantas voltas vamos dar.
Foi nestas voltas, muitas vezes longas que me treinei na tarefa de meditar. Já muito antes da gravidez tentava serenar todos os dias uns minutos, sentada no chão, em silêncio, acalmar o cérebro, não pensar em nada. Não era nada fácil, os minutos pareciam horas.
Comecei entretanto a contar até 100 algumas vezes em que adormecia o Xavier. Momentos em que não penso em mais nada. Só nos números, nos passos que dou dentro do quarto.
Comecei a fazer isto todos os dias. No stress de ter uma criança que não quer dormir nos braços, comecei a encontrar calma, o vazio, o balanço. O balanço do corpo entre os passos para cá e para lá que depois nem recordo e o balanço da cabeça, mal dormida, cansada, cheia de coisinhas para tratar, resolver, dúvidas e ansiedades .
Muitas vezes, não é assim tão fácil. Fico nervosa, tenho pressa e coisas para fazer e sei que se não me acalmar vou entrar num momento de tensão com o Xavier, que vai demorar ainda mais a dormir, talvez até chore. Mas se estiver tranquila, com a cabeça focada no momento e aproveitar para não pensar em nada, para lá de saborear o meu bebé que não para de crescer aninhado no meu colo, o sono chega mais rápido, ele sossega e ficamos os dois bem melhor.
Neste esforço e nesta luta de não deixar escalar os nervos, o stress e toda a pressa do dia-a-dia, aprendi eu a meditar.
Medito à minha maneira, mas medito.
Sempre que a rotina do sono, termina no embalo, deixo-me embalar nas contagens numéricas, no silêncio e nos passos. Ali, naqueles momentos do meu dia, não penso em nada. Estou a tentar meditar, estou a tentar melhorar esta técnica que já não é nova de contar até 100 e respirar fundo. Há dias que já nem conto e a calma chega.
De um a forma certa, nova, velha, boa ou má, tenho tirado partido dela.
Deitar um bebé não é um desafio pequeno. Somos muitas vezes postas em causa como mães, quando eles não dormem. Os dedos dos outros apontam-nos como más mães a criar filhos pouco independentes, cheios de problemas, com rotinas de sono ruins, ou como mães nervosas, pessimistas e inseguras a passar constantemente essas coisas para os seus rebentos.
Sei que não sou perfeita, sei que o sono, 10 meses depois, ainda não é o paraíso da dinâmica familiar desta casa, não é fácil para mim aceitar que seja difícil, mesmo depois de ter tentado muitas coisas e ter falado com outras mães a passar por semelhantes desafios.
Sei que estes momentos da minha meditação me ajudam. Sei que aprendi neste tempo e com um bebé que aos 10 meses ainda gosta de um bom cafuné no colo para se esticar a dormir, que contar me levou a meditar. A ouvir os barulhos do silêncio, a conhecer a força de quem pouca força tem de fazer. Aprendi a limpar a cabeça, encontrei aquele momento do dia em que tenho realmente algum tempo para respirar (e não estou fechada na casa de banho).
Contar até 100 é bom, muitas vezes melhor. Não contar nada e respirar fundo também já funciona.
Hoje já contei. Amanhã contarei ou não. Vamos ver com dorme o Xavico e como me aguento eu.
Dez meses e já medito. Porque ter um bebé faz-nos ser mães mas traz outras coisas também!