Lá fora há uma escola!
Não vou falar da escola.
Do que ouço por aí sobre computadores e ensino a distância. 🙁
Sobre desigualdades, sobre regras e algumas bem complexas de entender e aceitar.
Mas vou falar da escola da rua. De ser criança e poder brincar fora de casa.
Do campo. De explorar, respirar e brincar fora de 4 paredes.
Quantos de nós, não se lembram de dias fantásticos em que brincámos na rua? Como são boas essas memórias? Brincar na rua cria estas lembranças.
Sei que as cidades dificultam muitas vezes as corridas no campo, mas algumas cidades por outro lado, até estão bem próximas da praia.
Os areais são um bom playground para, como se costuma dizer, ganhar força nas pernas, ou seja para a destreza motora, a força muscular e cardiovascular das nossas crianças.
Elas respiram fundo, sentem a brisa na cara, o mar nos pés e quem vai com eles numa respiração funda também ganha força para mais uns dias de confinamento.
Na realidade, brincar na rua devia ser possível até nas escolas.
Não devia existir chuva ou sol a mais que as impedisse de ir apanhar ar, correr, descobrir, mexer na terra.. entre tantas outras coisas. Não num país, de clima em geral ameno, e num mundo cheio de roupa impermeável e quente.
Aqui concordo com os nórdicos e a sua forma simpática de levar os miúdos a brincar na rua todos os dias independemente do estado do tempo.
Nem sempre o contexto em que estamos, permite sair com as crianças para brincar. Eu sei.
A nossa localidade, os nossos horários de trabalho, os lugares que não se ajustam às idades deles, a nossa disposição, entre muitos outro fatores que cada família e cada criança têm.
Mas sendo possível, havendo vontade, permitir que corram, caminhem, saltem, caiam no chão, se sujem é sempre são sempre boas opções.
Atenção, jogos de tabuleiro, atividades de grafia, expressão artistica, musical ou outras são boas atividades, e a minha opinião não é que se devem escolher umas em detrimento das outras. Mas sim, que se encontre beneficio da diversidade.
Diversidade de experiências, diversidade na curiosidade…
Sabiam que as crianças em situações novas, diferentes, ou em locais diferentes, potenciam o aumento do seu léxico verbal?
Esta poderá ser uma das vantagens de os tirar de casa e ir a um lugar diferente.
A esta vantagem, juntam-se muitas outras.
Ao ar livre existe noção de espaço comum, podemos trabalhar o sentido de comunidade, comportamentos benéficos para o ambiente. As crianças ainda conseguem perceber diferentes formas de socialização e ficam diante de novas situações, como perder um balão que voa, uma bola presa numa árvore, que a vão fazer pensar sobre soluções ou respostas para as mesmas.
Desenvolvem assim também a sua autonomia.
Pensamento divergente, socialização, contacto com a natureza, potenciar a atividade física e a liberdade mental, para lá do sol, se for tempo dele, que sem excessos, contribuí para o bem estar dos mais novos, são beneficios que a brincadeira na rua potencia.
Podia ainda falar que estar na rua, é ainda benéfico para o sistema imunitários das crianças, mas nesta fase em que vivemos, onde estamos focados na desinfeção estrema e o afastamento social, talvez deixe cair este beneficio por terra.
Mas perguntam vocês o que fazer na rua com eles?
. Jogar à bola
. Andar de bicicleta
. Correr /correr com sacos/ correr com obstáculos (ajustado à idade)
. Jogos de infância, como a macaca, cabra cega e o anelinho (ajustado à idade e ao nº de crianças)
. Apanhada (bata um dos pais e um filho, garanto-vos que funciona)
. Encontrar animais (os incetos são os mais fáceis de ver nos parques das cidades)
. Rebentar bolas de sabão (faço sempre na rua, 🙂 porque em casa corre mal)
. Apanhar pedras e paus (podemos trabalhar os números com este jogo na rua)
. Cheirar flores e diferentes cores
. Levar um livro para ler no parque
. Ler matriculas de carros (um dos favoritos do Xavier, atenção ao local :))
. Conhecer a parte mais pitoresca das cidades, encontrar janelas e portas de cores diferentes
Agora dizem vocês, mas nem sempre é fácil encontrar um local adequado para ir com eles. Onde podemos ir?
. Parques e jardins da Cidades
(Em Lisboa: Monsanto, Jardim Fernando Peça, Alameda, Jardim do quiosque da Praça de Londres, Jardim do Braço de Prata, Parque Tejo, Marina do Parque das Nações, Jardim do Arco do Cego, Jardim da Torre de Belém, Jardim Mário Soares, Ruas do Castelo e da Baixa)
(Em Torres Vedras: Parque Verde da Várzea, Os Cucos, Parque Verde da Ponte-Rol, Bairro do Castelo)
. Nas imediações de casa
. No areal da praia (se estiver perto de nós)
. Na casa dos avós (quando moram em aldeias, ou casas com quintais e jardins)
. Nos caminhos das aldeias (aqui há lugares sem fim, mas nem todos conseguimos ir).
Não vos vou mentir e dizer que o o Xavier anda na rua tantas vezes quantas nós gostaríamos, ou que não usa ecrãs, porque não permitimos ou não gosta.
Mas vou dizer-vos que sabemos que arejar lhe faz bem, em muitos dias uma corrida ou caminhada o ajuda a autorregular e nos ajuda a nós também a lidar com as a sua personalidade ou o seu estado de espirito.
Aproveito e digo-vos que as escolas deviam investir mais em espaços exteriores, de brincadeira livre, de saídas exploratórias de contacto com a natureza, com o tempo que faz lá fora, com as pessoas que passam.
Lá fora há mesmo uma escola! Uma boa escola!
Uma escola boa onde eles desenvolvem muitos aspetos físicos, mentais e sociais importantes para o seu crescimento saudável.
Então se pudermos, vamos como eles num passeio por aí? (ganham eles e nós).
Há por aí fãs de aprender na Rua?