Patagónia, onde o céu é mais azul!
Antes de ser esta mãe galinha, usava muitas vezes uma mochila com umas quantas coisas mal amanhadas e saía à descoberta.
Na realidade saíamos muitas vezes juntos.
Por esta altura em 2016, cumpríamos o sonho de fazer uma lua-de-mel à volta do mundo depois de um 2 anos sem muitas férias e a preparação de um casamento pelo meio. Estaríamos algures na Patagónia. Com uma mochila pequena onde se misturavam roupas de verão e de inverno
Uma das coisas que gostamos de fazer em viagem é desafiarmos a nossa resistência, fazer coisas que normalmente não faríamos em Portugal, por falta de tempo ou por diferente ordem nas nossas prioridades.
Foi em El Chantén que quisemos fazer uma trilha alternativa em busca da base Fitz Roy. Foi nesta pequena aldeia entre a Argentina e o Chile que lá fomos sozinhos tentar um percurso alternativo para chegar mais perto destas massa rochosa com um lago azul na base que fascina turistas, alpinistas e caminhantes. Tentativa falhada, por minha culpa, um terreno acidentado de mais e uma trilha mal marcada colocaram-nos numa encruzilhada e estando no período da tarde, não deixei o André arriscar. Mesmo depois de muitos pedidos dele. Sim eu às vezes sou medricas (muitas vezes). Descemos, guardando a caminha para o último dia que tínhamos ali destinado, correndo o risco de perder o transporte de regresso a El Calafate, onde ainda não sabíamos bem onde ficar.
Sei que ele ficou triste, sei que pedi desculpas, mas viajar juntos têm destas coisas, e às vezes ganha a razão. Mas no outro dia bem cedo, saímos pela trilha mais convencional e mais bem marcada. Depois de uma peregrinação a Fátima a pé, subir o Monte Batur em Bali e o Adam´s Peak no Siri Lanka e ter caído no meu antigo trabalho, o meu joelho esquerdo nunca mais foi o mesmo. Mas estava preparada para o inchaço e para superar a dor. Suspeitava que a descida ía ser dura.
Seguimos juntos, um marco que queríamos fazer na Patagónia os dois. Saímos com a certeza de uma última parte muito difícil em terreno muito inclinado e solto, mas certos que conseguiríamos (eu menos certa que ele, confesso aqueles 3 últimos Kms pareciam eternos).
Seguimos juntos pela trilha, mas a maior parte do caminho em que não fomos de mãos dadas porque eu precisava de ajuda ou só de parar e recuperar o fôlego, em que não contemplávamos um cenário incrível ou trocávamos umas palavras entre uns beijos, seguimos sozinhos. Num silêncio perfeito que não encontramos na rotina dos dias. Seguimos sozinhos, ouvindo a nossa respiração, gravando com os olhos paisagens e sentindo na pele sensações únicas que passaram a fazer parte de nós para sempre. Seguíamos muitas vezes em silêncio, como que acompanhados por um nada perfeito e na realidade nem um pouco incomodados com isso.
Também muitas vezes a vida a dois é assim, solitária nos encontros que precisamos para nós mesmos, para ser, para estar, para ser melhor para nós mesmos e para os outros.
Foi uma caminhada do caraças, estavámos limitados pelo tempo, sabíamos disso, mas mesmo assim aproveitávamos o que cada passo vos trazia. Descer foi quase tão difícil como subir e desta vez com um olho no relógio.
O meu joelho inchou e doeu imenso na descida, mas já contava com isso. Não desisti e usei muito tiger balm até chegarmos a El Calafate.
Já disse vezes sem conta que a Patagónia é o lugar do mundo onde o Céu a mais azul. Pelo menos de todos os céus que já vi. O azul é especial nos lagos, mas no céu é um perfeito contraste com tudo o resto. Chegar ao Fitz Roy foi um desafio debaixo de um céu azul maravilhoso, chegámos juntos e sozinhos, a contemplar uma massa rochosa a rasgar o céu que nos apaixonou. Foi uma viagem dentro da viagem, uma caminhada onde nos conseguimos ver um ao outro por cada um de nós e por nós mesmos. Uma de muitas que não vamos esquecer.
Algumas dicas para quem vai:
. Levar umas comidinhas na mochila, porque é tudo caro. O lugar é distante, os produtos básicos demoram a chegar.
. Os supermercados fecham cedo.
. Ficámos num hostel e cozinhámos, ficou económico e tínhamos dinheiro contado, mas há lugares para comer e padarias onde para lá de pão, há as famosas empanadas (que esgotam rápido).
. Façam a trilha com tempo. Levem uma garrafa de água, da para encher ao longo do caminho em várias nascentes. (tragam de volta e coloquem na reciclagem)
. Vejam a metrologia, a chegada ao fim da trilha é fria e a parte mais dura da caminhada.
. Atenção ao calçado, confortável e adequado a caminhadas.
. Máquina Fotográfica com memória e bateria, assim depois podem escolher as melhores fotos…
Até breve e boas viagens a quem anda por esse mundo fora agora!