aos 21…
Aos 21, continuamos a falar em meses.
Nunca fomos muito de anotar e contar os dentes que vão aparecendo ao miúdo. Até porque são chatos, demoram eternidades a sair.
Andamos muito tempo na esperança que saiam todos cá para fora e num dia qualquer, sem sabermos bem como o puto já se está a queixar porque já estão outros a nascer e nem demos pelos outros.
Esta chegada aos 21 meses trouxe dentes difíceis, fui pesquisar, quais eram e tudo, para saber o nome e confesso que já me esqueci. Tenho uma grande amiga dentista que me está sempre a dizer, são estes ou aqueles e faço sempre figura de ursa, porque não sei mesmo. Não me recordo ao certo da sua localização, sei que aprendi na escola, mas também aprendi no filme Divertidamente, que há memórias antigas que temos de mandar lá para o fundo para dar lugar a outras.
Aos 21 meses o Xavier já conhece as letras do seu nome. Vê Xs na rua nas janelas, nos prédios e já vai apontando e dizendo as letras que faltam, mas acho que é presunção exagerada gabar-me disso. Mas o miúdo tem boa memória, já conhece os caminhos que faz para a escola, para o parque, para os avós e para casa, as letras são só mais umas coisinhas às quais ainda não damos muita atenção, mas que nos envaidecem um pouco, enquanto tentamos não valorizar muito e tentamos também dar atenção outros aspectos do seu desenvolvimento.
Aos 21 meses, juntou ao favorito Mickey a Patrulha Pata e para quem esteve quase 12 meses sem ver televisão, às vezes acha que é dono do comando. Andou mais de uma semana só a querer ver os Pinguins do Madagascar. Embora, dance, cante e fale com a TV continua ser um miúdo que prefere a nossa atenção, a rua, o parque, a casa dos avós, a praia ou qualquer coisa que seja do pai para brincar. Também adora legos, carros e tratores, mas pronto nada supera o pai como o seu brinquedo favorito.
Desenvolveu ainda mais o vocabulário e expressa cada vez mais as suas vontades ditas em frases compostas. Sabe o que é dentro e fora na perfeição, já o subir e o descer são sempre a subir. Começou a não gostar de trânsito e viveu este mês a dizer que via o mundo sempre a amarelo. Pai, Mãe, carros, motas, autocarros, roupa, foi tudo amarelo.
Foi o mês do apanhei-te. Jogo que não se cansa de jogar. O mês de dar beijinhos gigantes e de juntar a minha cara e a do pai para nos ver beijar e rir muito de seguida. É um traquina. As meninas do celeiro da Avenida de Roma já o conhecem porque pede muitas vezes cenouras para comer enquanto fazemos compras. São umas queridas que as descascam para ele andar a roer e eu confesso que sei que não devíamos ceder, mas não consigo dizer que não a uma cenoura. Que continue assim em vez de pedir bolachas ou outras porcarias e termos de o contrariar e entrar numa birra com toda a certeza.
Sim as birras continuam por cá. Vamos lidando. Não é o pior do mundo, mas talvez seja bastante teimoso.
Começou a querer escolher o que quer vestir, ou pelo menos tentar, mas com um foco muito mais especial no que quer calçar, foi algumas vezes contrariado para a escola por troca de sapatos, ou por não poder levar um de cada nação. Mas, vamos lá com calma, que o nosso fanico de gente não pode sair por aí achar que é dono disto tudo e já tem vontades muitos próprias no que ao estilo diz respeito. Sim, neste ponto é vaidoso como o pai. Sim o pai, ajuda a alimentar estas coisas, mas também já sabemos que não somos pais perfeitinhos e eu lá os deixo brincar aos outfits de manhã de quando em vez.
Na chegada aos 21 meses, fomos a Boston com o pai, que passou a ser dono de todos os aviões que existem neste mundo. Lá fui eu e ele, um carrinho, uma ergobaby e muita tralha para o aeroporto, o que não foi propriamente fácil. Mas valeu o esforço logístico, e a ajuda que tive. Confesso que também acho importante irmos fazendo estas coisas sozinhos com ele. Treinamos a autonomia de todos.
O Xavier adorou neve, e foi maravilhoso ouvi-lo dizer UAO, assim juntinho a ela, antes de ter perdido o medo e perceber que a podia pisar e nos fazer andar numa roda vida de troca de roupa e de ténis. Comprovámos mais uma vez, que não é nada friorento como a mãe e que adora o mar e muita areia como o pai.
Pai que quis levar o Xavier a andar de barco, pela primeira vez e o quis fazer no dia do pai.
Fomos juntos de Ferry até Troía com sete olhos e muita força de braços, porque o Xavier acha mesmo que mais fixe que um barco grande é mesmo entrar dentro de água. Água da qual não tem mesmo medo nenhum, e se for do mar e der para comer areia antes, perfeito.
Mas o mais especial deste mês fantástico e repleto de aventuras, em que percebemos que temos um filho destemido, curioso, já um pouco refilão e vaidoso, foi ter dormido pela primeira vez duas noites seguidas. (obrigada senhor, obrigada).
Mas aclamem-se, pessoas fofinhas, que já voltámos ao registo habitual, verdade que bastante melhorado, com noites em que apenas acorda uma vez, se contarmos com a hora de despertar às seis da manhã. Mas tudo é melhor que despertar de 40 em 40m, 6 vezes por noite, brincar na sala às 4 da manhã e dormir só no colo. Fazes que já passaram (esperamos nós) e que nos dão agora alguma esperança que as coisas vão melhorando neste aspecto.
(Quer dizer tudo, menos o pintar coisas que não papeís com lápis aquarela do Ikea incluíndo a sua boca para os usar como lanche…)
O mais curioso é que esta noites, precedem dias em que estivemos os 3 sempre juntos. Fizemos passeios, estivemos em casa, brincámos, fomos ao parque, lemos livros, desarrumámos a casa, fizemos juntos todas as refeições, experimentámos coisas novas. Já uma ou outra vez e períodos de férias e até mesmo agora em Boston ele tinha dormido 5 a 6 horas, mas nestes casos, o cansaço e adaptação ao horário aparecem sempre como justificação. Mas o certo é que em todos estes dias estávamos juntos.
Eu, que dedico imenso tempo ao meu filho, que esteve em casa até aos 15 meses, que tem um rotina diária estabelecida, que tem a nossa atenção quase permanente quando estamos com ele, que vai para a escola quase sempre perto das 10 da manhã e regressa quase nunca depois das 16h, acredito que o que mais segurança lhe dá no que respeita ao sono somos nós os 3 juntos. Poderia ser a mama, a quantidade de comida, o brincar com o pai, a história que repetidamente quer ouvir antes de dormir, o banho, as horas certas para jantar, a ida ao parque, o momento com o pai, o final da tarde comigo. Mas não é. Acredito cada vez mais que regula o sono quando ficamos com ele em casa, vivemos o nosso fim-de-semana a fazer coisas juntos e o vemos mesmo, mas mesmo muito feliz. Ele que mesmo só comigo ou com o pai é o miúdo alegre e satisfeito d sua vidinha.
Mas como em tudo o que se relaciona com a parentalidade em particular e com as pessoas em geral, cada caso é um caso. E não há receitas certas. Há famílias e bebés, e muita vontade que todos possam dormir bem. Certo é que neste mês começou a ser frequente o Xavier ficar mais agitado no primeiro dia que o pai sai para trabalhar. Vai ao banho a resmungar, vem mais chorão da escola, pede ainda mais atenção e diz imensas vezes do nada para ele próprio em jeito de pergunta e pessoa que dá a resposta: O Pai? . No tá cá, foi trabalhar no avião. Segue a vida dele mas não se esquece. Às vezes as noites pioram.
Acredito que estas e outras coisas mexem com a sua própria forma de serenar e também de dormir. Noutras famílias existiram por certo outros aspectos a fazer a diferença. O melhor de tudo é que já vai dormindo.
Nunca consigo escrever pouco, sinto sempre que há uma graça, uma aventura que ficou por contar, uma coisa nova que sabe fazer, mais um palavra ou uma expressão. No fundo um dia, a ideia é não deixar fugir estas memórias. Dias em que eu e o Pai nos vamos emocionar por ter vivido estas coisas e provavelmente o Xavier vai achar careta e muito lamechas, registar estas coisas dos meses e das coisas que ele vai fazendo.
Estamos quase a chegar aos 22 meses, e ele está tão crescido e já há tantas outras coisas que podia contar, sobre um fanico de gente que mesmo tão pequeno nos ensina a ser maiores e melhores do que alguma vez sonhávamos ser.
O melhor desta aventura, é que a fazemos juntos!