Mãe, onde está o Papá? (Já está a chegar, não está?)
Se vos contar como foi esta noite. (Bem, já perceberam que não foi fácil).
As questões do mais novo, hoje começaram logo no sono da tarde.
– Mãe, onde está o papá?
– Filho, o pai foi trabalhar.
– No avião mãe?
– Sim filho, no avião.
– Porquê, Mãe? Ele está quase a chegar, não está?
– Filho o pai teve de ir trabalhar para comprarmos as nossas coisas, comida, roupa para o Xavier. E o papá chega na quarta-feira, ainda falta um bocadinho.
– Não mãe. Ele está quase a chegar. Eu quero.
…
Se achava que isto de ele lidar com os horários estranhos do pai ia melhorar com a idade, enganei-me. Tenho visto que na verdade, tal não acontece. Bem pelo contrário.
O Xavier pergunta, o Xavier percebe. O Xavier quer respostas. O Xavier tem porquês!
O Xavier já sabe o que quer.
E quer ter o pai mais perto, quer ter o pai em casa. Parece-me normal e até saudável que ele seja muito feliz quando está connosco. Acredito que não entenda muito bem o porquê das ausências, de não haver horários sempre iguais e se um dia o pai não está, logo de seguida é dia de estar com ele o dia todo.
O Xavier já sabe o que sente. Entre o estar chateado ou triste, lá vai dizendo o que prefere, gosta, o que lhe custa mais ou o que o faz mais feliz.
Custa-me um bocadinho quando ponho a chave na porta e ele diz: Mãe vamos assustar o pai?Ele está lá não está?
Ou ver como entra e vai logo procurá-lo, e lá diz: oh não… onde está o pai?
E o pai ainda não está!
Acredito que custa bastante ao pai, que é tão super pai, que não vai dizendo como lidar com isto não é muito fácil. E que mal sai para trabalhar começa a contar o tempo para regressar…
Temos, por tudo isto, cada vez mais cuidado em preparar a dinâmica das semanas. Cada vez mais cuidado em comunica-las com o Xavier.
Explicar-lhe sempre quem está por casa, quando o pai, quando o pai vem.
Pode parecer parvo, e vocês até podem perguntar: mas sabe o miúdo quando é que é segunda ou sábado ?
Na verdade eu não tenho a certeza se ele sabe, mas acredito muito que esta comunicação e que a nossa forma de o fazer, pode ajudar-nos a todos. Em especial a ele.
Para lá de criarmos um hábito entre nós de partilha dos nossos dias, que queremos que se mantenha, vamos sendo transparentes e verdadeiros com ele, para que se sinta seguro e saiba com o que pode contar e o que vai encontrar. O Xavier vai crescer e nós vamos fazendo o que sempre fizemos. Partilhar os nossos dias, as nossas coisas, os nossos horários. Mantendo estes hábitos nossos, que fomos criando para lidar com este tipo de situações.
É curioso, ou nem por isso, que as maiores questões que o Xavier coloca são mesmo na hora de dormir.
Como sabem ele nunca dormiu bem. Temos visto que lhe custa adormecer sem a brincadeira para dormir com o pai e sem vir respondidas todas as suas questões acerca do paradeiro do pai .
As video-chamadas são óptimas e garantem conversas entre eles os dois e nós os 3, mas às vezes são momentos onde vemos o Xavier a expressar o seu descontentamento e algumas das suas confusões.
Não percebe porque o pai, está num hotel e não no avião e não pode estar em casa. Fica um pouco danado e diz que não quer falar com o pai, mesmo que minutos antes tenha perguntado por ele e quando vem ele para casa.
O pai do Xavier é super presente e cuida dele como ninguém, mas tem um trabalho que adora, mas que tem uns horários diferentes.
Muitas vezes o pai do Xavier regressa e abdica de dormir e descansar ou fazer outras coisas para passar tempo com o Xavier, ou para estarmos os 3.
O Xavier adora o pai, o pai sabe disso.
Quando percebe que ele está em casa, porque chegou de madrugada, não descansa enquanto não o acorda, ficou difícil explicar-lhe que ele precisa de descansar, quando ele diz que quer brincar com o pai, porque já é de dia.
É um miúdo de quase 3 anos a dizer que tem saudades do pai. Somos nós como família a lidar com isto e a dar o nosso melhor para sermos felizes.
Esta nossa realidade, única, como todas as outras realidades familiares, obriga-nos a alguns ajustes no nosso dia-a-dia.
Ajustes que nem todas as pessoas entendem, ou simplesmente não se revêm. Porque as suas vidas são diferentes, os seus horários, profissões ou formas de pensar requerem outro tipo de adaptações.
Um dos motivos pelos quais só aceito projectos profissionais flexíveis e não aceito das trabalhos das 9h às 18h é o tempo com o Xavier, o tempo com o pai do Xavier e o tempo a 3.
Muitas vezes os nossos domingos têm de ser às terça ou as quartas. (Sei que vai ficar tudo muito mais difícil com a entrada na escola dos crescidos, mas até lá, não pensemos já). Muitas vezes largamos tudo, pegamos nas poupanças e vamos 4 dias a acompanhar o pai, somos muito gratos por ele ter um trabalho em que isto é possível, e as minhas escolhas pessoais e profissionais também.
É a percepção temos da importância que para ele tem estar connosco ou ir buscá-lo cedo à escola. De nos ajustarmos para que isso seja possível e entre os dias em que só eu estou em casa ele não fique fora de casa das 8 da manhã até às 7 da tarde.
Muitos meses só contamos como rendimento do pai, mas esta escolha permite-nos estar mais tempo juntos. Uma escolha que não conseguimos quantificar e que fazemos de forma consciente, prescindindo muitas vezes de outras compras e outras gastos.
Um escolha que só fazemos porque abdicamos de mais um rendimento fixo em casa. Uma escolha que fazemos porque vamos podendo, fazendo uma gestão nem sempre fácil, porque usamos a nossa balança tendo-a sempre em conta.
Não nos arrependemos, não julgamos ninguém e temos a certeza que damos o nosso melhor, quando a educadora nos diz, nota-se tão bem quando está com os 3, anda sempre feliz, come e dorme melhor e fica muito mais tranquilo.
Temos a certeza que damos o nosso melhor quando vemos e ouvimos a sua gargalhada e sentimos que está bem quando estamos juntos.
Acreditamos que ser pais é isto.
Acreditamos que ser pais e dar segurança, amor, estabilidade aos nossos filhos na medida das nossas possibilidades, dentro da nossa realidade.
O Xavier não tem avós perto ou tios que muitas vezes nos possam dar suporte.
Somos nós e ele a maior parte do tempo.
O pai do Xavier pode não estar a chegar já, isso não podemos mudar, mas podemos mudar os dias em que ele está. E é isto que fazemos .
Xavier, o pai já chegou ser tão bom!