Setembro, o meu regresso ao trabalho !
Podia ser um post sobre o seu regresso à escola.
Mas por aqui é Setembro é tempo de eu voltar ao trabalho.
Depois de quase 3 anos em casa, assumindo isso como uma escolha. Alguns trabalhos em consultoria e formação. 5 entrevistas depois, 2 recusas de projectos devido aos horários, chegou a hora de regressar a um ativo profissional mais ativo.
O meu interesse no projecto, a forma como chegámos a uma acordo de horários e o fato de trabalhar 4 dias por semana fizeram-me arriscar e aceitar.
O meu coração anda apertado desde esse dia. O tempo que ganhei, que conheci e aprendi a viver, vai agora sofrer um corte.
O meu tempo em casa, o meu tempo com eles vai diminuir e é isso que me deixa mais triste.
Muitas pessoas próximas falam comigo pondo o foco desta decisão nas minhas capacidades como profissional, no dinheiro, na noção de independência. Muitas pessoas me perguntam o que faço, como foi trabalhar, se ainda sei fazer as coisas. Poucas pessoas me questionam de como me sinto, se estou ou não feliz e como está o Xavier a viver isto.
Sei que é estranho, mal visto e sei lá mais o quê, uma mulher em plena idade ativa, com capacidades reconhecidas no trabalho, escolher ficar em casa e ser feliz com isso. Mas eu fui feliz, na verdade muito. Talvez a dinâmica dos nossos horários, a forma como aprendemos a valorizar o tempo quando estamos juntos, acabe por ter influência. Talvez sendo a nossa realidade diferente de todas as outras, torne as nossa escolhas mais difíceis de entender, por quem depois, acha que agora é que está tudo certo.
Mas calma pessoas, tudo tem o seu tempo e as suas razões. E esta volta ao trabalho, nestes moldes, faz parte de uma vontade minha (eu estou viva e sei o que quero), que de certo me levará a um novo lugar neste meu caminho. Apesar disso e de querer concretizar este projecto com sucesso, aceitei-o com alguns acordos que fiz comigo própria;
. se me sentir infeliz, volto para o lugar onde estava (há muitas formas de chegarmos onde queremos);
. se esta nova dinâmica não funcionar para a minha dinâmica mãe vrs filho e a nossa estrutura a 3, volto para o lugar onde estava (e recupero toda a estabilidade que construímos dia após dia);
. se tiver mais “prejuízos” que reconhecimentos e recompensas merecidas, por certo este projecto não será para mim, pois acredito que devemos trabalhar e sentir felicidade e orgulho nas nossas conquistas e na forma como respondemos às expectativas.
Assim, passado uma semana, não consigo saber, se vou abraçar este projecto durante 1mês, 3, 6 meses , 1 ano, ou mais. Sei que o vou fazer enquanto me fizer sentido. Não me retirar a calma ou o sono e me fizer sentir orgulho no que faço.
Este semana, foi então, um misto de emoções. Ganhar ritmo, viver com a pressão dos horários, deixar o Xavier choroso, sempre muito consciente do que vou fazer , curioso para perceber o que é, onde é e a que horas volto.
Para as pessoas que dizem que foi muito tempo sem trabalhar, culpando-me do que o meu filho sente, ou que ainda dizem que antes agora que mais tarde, porque ele ía perceber melhor, posso dizer que quero que independentemente da idade, o meu filho e demais filhos que possa vir a ter, saibam que não fujo deles. Não os tive para serem filhos da creche ou os ver ao fim de semana. Quero que saibam de mim, que entendam porque estou ou não estou por perto e quero acima de tudo estar perto e presente.
(Para os que acham que eles não sentem… sentem pois, o meu sente que saio antes dele, que não o vou deixar à escola, e sente-se disso! )
Nenhum dinheiro pagaria todos os pequenos almoços à mesa com ele, todas as idas ao parque ao final do dia, todos os dias de ronha na cama, todo o tempo que demos um ao outro, do qual, não me consigo arrepender um só minuto.
Sim muitas vezes, senti falta de tempo para mim, para dormir, para respirar ou até para saber se mantinha ativas as minhas capacidades profissionais ou se seria capaz de as exercer novamente. Mas todos os abraços que tive, todos os dias que vivemos a 3 sem pressas e sem horas marcadas, foram o melhor que nos podia ter acontecido.
Sei que nunca poderia viver estas coisas, se há 3 anos, grávida do Xavier, não tivesse ficado sem trabalho. Não tivesse tido tanto tempo para viver a maternidade e percebido talvez o verdadeiro significado de trabalhar para viver (contrário ao tão conhecido viver para trabalhar).
Este texto não é para me explicar perante ninguém, nem por ter aceite este novo desfio, nem no caso de amanhã não o querer mais, porque pessoas, o que menos vos interessa é isso, porque a minha vida é mesmo minha, então não percamos nós, nem eu tempo com isto.
Este texto é uma recordação para mim e para o Xavier. Para que saiba que chorei muito esta semana, às vezes ainda no elevador. (Não foi só uma semana difícil para ele). Para não me esquecer dele deitado no tapete da casa de banho enquanto eu tomava banho, dizendo, mãe fica com o Xavier. Para não me esquecer que o pai o deixou na escolinha e ele chamou a chorar por mim, para não me esquecer que quis saber qual era o meu trabalho e me perguntou se ía e voltava para casa. Para não me esquecer que voltou a dormir pior, a acordar a meio da noite à minha procura. Que foi para a nossa cama, e puxou sempre o meu braço para o envolver. Para não me esquecer que o seu jeito de se mostrar sentido foi não me deixar ajudar a dar-lhe o jantar ou a contar uma história antes de dormir e só querer o Pai. Não me esquecer da sua alegria no sábado ao confirmar que era dia de a mãe não trabalhar. Para não me esquecer do seu abraço enquanto me disse que tinha saudades minhas e perguntou se a mãe também tinha saudades dele.
Por sorte o trabalho do Pai permitiu que ele estivesse em casa, ficasse com ele, fossem juntos à praia. Por sorte foi ele também a minha rede, a minha sorte grande e a minha calma, para me poder focar, ainda que com o coração desfeito, mas certa que estavam os 2 bem. O meu companheiro que me deixou adormecer às 9.30h sem que a a casa ficasse de pantanas. O meu amor que me abraçou e percebeu tudo o que ía na minha cabeça. Também não me posso esquecer disso.
Lá roubámos 2 horas ao miúdo e conseguimos um jantar de sexta feira, naquela que foi a primeira de muitas semanas em que mal tivemos tempo para nós.
Mas as coisas são mesmo assim. Amanhã recomeça esta nova rotina. Enchi o meu miúdo de beijos e mimos, histórias, corridas, jogos de bola, banho demorado em que a água ficou bem suja, brincadeiras no chão, pequeno almoço fora, e sonecas agarradinhos. Um fim de semana a 2, cheios de saudades do pai, fora em trabalho.
Esta é agora, pelo menos durante algum tempo a nossa nova dinâmica.
Estamos todos a ajustar-nos. A arrumar corações. A encontrar as coisas boas, neste novo trilho do nosso caminho.
E vocês? Como foi o vosso regresso ao trabalho? Como ficaram os vossos meninos na escola? E o vossos corações?